sábado, 29 de março de 2014

'FT': Brasil se prepara para Copa em meio a aumento da violência no Rio

Jornal do Brasil
Matéria do Financial Times alerta para o aumento da violência no Rio de Janeiro, a menos de 80 dias da chegada de centenas de milhares de turistas para a Copa do Mundo. O caso ocorrido na semana passada com o capitão Gabriel de Toledo, subcomandante da UPP de Manguinhos que foi baleado, ganhou destaque como o mais recente de uma onda de ataques contra a polícia.
A publicação também relata a situação de moradores, que parecem não saber dizer o que é pior, uma comunidade controlada por traficantes ou por policiais. “Eu estava na cama com a minha mulher uma noite e a polícia quase explodiu nosso lugar. Eles acham que todo mundo por aqui é traficante de drogas", disse um morador da favela de Manguinhos de 30 anos. Sua irmã o alertou: "Por que você sempre tem que falar tanto? Basta agir como um surdo e mudo, como o resto de nós!”.
A favela de Manguinhos está a 15 minutos do aeroporto internacional do Rio de Janeiro, e hoje se assemelha a uma terra de ninguém, ressalta a FT. Organizações comunitárias consultadas pelo jornal acreditam que a mais recente escalada de violência do Rio representa uma das maiores crises da ofensiva do Brasil contra as gangues criminosas e milícias, "que têm assombrado a segunda maior cidade do país durante décadas".
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A matéria informa ainda o pedido de ajuda do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ao Exército, depois de sete ataques contra as UPPs desde o início de mês passado. O jornal reforça que o programa de pacificação criado em 2008 hoje conta com 37 UPPs, presentes em 257 comunidades com 1,5 milhão de pessoas.
A declaração do secretário de segurança pública do estado do Rio, José Mariano Beltrame, ganha destaque, com a constatação de que é natural que os mais poderosos grupos criminosos do país, como o Comando Vermelho (CV), queiram tentar recuperar a influência. "Em áreas onde o Estado esteve ausente durante décadas, os criminosos assumiram o papel dos poderes legislativo, executivo e judiciário", diz Beltrame. "As pessoas que sempre fizeram a vida do crime não vai desistir tão facilmente e nós sabíamos disso."
FT conversou com Carlos Melo, cientista político do Insper, que informou que o momento da crescente violência não é por acaso. Está relacionado à maior visibilidade do local devido à recepção da Copa do Mundo e Olimpíadas, que ajudariam criminosos a explorar um momento de visibilidade e vulnerabilidade do governo. 
Para o jornal, o Brasil sofre com a infraestrutura de má qualidade e os atrasos na construção dos estádios exigidos, que ameaçam transformar os eventos no país em "papelões ridículos internacionalmente", em vez do momento de ouro que todos haviam sonhado quando o país venceu a licitação em 2007.
A crescente repulsa dos moradores das favelas sobre o uso excessivo da força policial também faz com que seja um momento oportuno para agir, diz o professor Melo. Já os policiais militares que patrulham favelas do Rio dizem que a retaliação pode estar ligada às eleições governamentais e presidenciais do país em outubro, uma visão apoiada por Sandro Costa, vice-coordenador de segurança humana na Viva Rio.
Sandro Costa reforça que além do tráfico de drogas e de toda a indústria que o rodeia, como o pagamento de dinheiro para proteção, também tem a história de envolvimento político com milícias no Rio. Sandro Costa disse ainda que os assassinatos e índices de criminalidade, em geral, sempre caem no Carnaval, o que se espera que aconteça também durante a Copa do Mundo.
A única coisa que os moradores de Manguinhos e de outras mais de mil favelas anseiam, aponta, é a estabilidade, com ou sem UPP. A matéria toca em outro ponto importante, os crimes comuns, como roubos, aumentaram nas favelas pacificadas, porque a polícia seria menos temida do que os ex-chefes do tráfico.
Outra questão abordada é que os traficantes que permaneceram nas favelas pacificadas recrutam cada vez mais crianças, já que para a polícia seria mais difícil prender crianças. "O tráfico de drogas ainda está aqui, os traficantes apenas se adaptaram ao novo modelo", disse um oficial de patrulha fora Manguinhos.
No entanto, como na guerra, acrescenta, o próximo passo deveria ser o de "conquistar os corações e as mentes dos moradores", usando a inteligência da polícia, e não apenas a força bruta, além de assegurar mais serviços públicos para aliviar os problemas sociais agudos, dizem acadêmicos e organizações não governamentais, finaliza o FT.
"No momento, a polícia está apenas apagando incêndios", diz Melo. "A verdadeira batalha será para atacar a raiz do problema."

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